Na mesma altura em que publicou o 'World Economic Outlook', o FMI publicou também o Global Financial Stability Report. Após um ano sobre o colapso do Lehman Brothers, quer os mercados financeiros quer o cenário para a economia global se apresentam agora numa situação significativamente mais estável.
As elevadas perdas com o crédito transformaram aquilo que começou por ser identificado como um problema essencialmente de liquidez num problema de solvência de um grande número de instituições financeiras. As autoridades monetárias e governamentais intervieram prontamente evitando uma crise sistémica nos mercados financeiros. Como resultado destas intervenções, várias instituições financeiras encontram-se sob controlo estatal.
O relatório do FMI estima que as perdas globais relacionadas com o crédito deverão atingir USD 2.809 mil milhões durante o ciclo 2007-2010. Este montante distribui-se na sua maioria pelos EUA (USD 1025 mil milhões), zona euro (USD 814 milhões) e Reino Unido (USD 604 mil milhões). Enquanto que os EUA já reconheceram mais de metade do montante de perdas expectável (USD 610 mil milhões), zona euro e Reino Unido ainda não atingiram este nível (USD 350 mil milhões e USD 260 mil milhões, respectivamente) devido a diferenças nos seus ciclos económicos. De acordo com as perdas estimadas e com o cenário de diminuição da alavancagem do balanço dos bancos traçado pelo FMI, o sistema bancário apresenta necessidades adicionais de capital de USD 130 mil milhões, nos EUA, USD 310 mil milhões, na zona euro, e USD 120 mil milhões, no Reino Unido.
Assim, a retoma económica não poderá depender do aumento do crédito à economia, uma vez que o sistema bancário encontra-se num processo de reestruturação que passará pela diminuição dos seus activos e pelo reforço dos seus capitais próprios.
Num cenário de melhoria das condições económicas, ainda que tenuemente, e de maior estabilidade dos mercados financeiros, o FMI aconselha a retirada gradual das medidas excepcionais de apoio à crise. Assim, as medidas de apoio ao sistema financeiro devem ser retiradas assegurando que as instituições cumpram os requisitos mínimos de capital e de liquidez necessários para fazer face a situações extremas nos mercados financeiros, evitando, no futuro, a repetição dos mesmos acontecimentos. As ajudas à economia real, representadas pelos planos de estímulo dos governos, deverão também ser gradualmente retiradas para que a confiança na sustentabilidade das finanças públicas não seja posta em causa.