O lider da Liga Portuguesa do WTI, Helder Castro da Silva respondeu a algumas perguntas nossas sobre os mercados e sobre o facto de ter vindo a perder muitos dos ganhos que já teve.
1- Helder que leitura faz do mercado nesta altura e que perspectiva tem para os próximos 3 meses?
O sentimento dos mercados nas últimas semanas parece ter-se alterado drasticamente: da euforia numa recuperação da economia mundial em V passou-se à dúvida e, neste momento, até já se notam sinais de inquitação crescente, como o prova a subida (13%) ontem do índice VIX, para um valor superior a 30 pontos (leitura que indicia nervosismo nos investidores e tendência para os mercados corrigirem). Aliás depois do S&P ter subido quase 40% desde os mínimos de 9 de Março, sem que os fundamentais macroeconómicos o justificassem, não deverá constituir surpresa para ninguém a ocorrência de uma correcção. A magnitude e durabilidade desta é que pode levantar diversas possibilidades.
Normalmente uma correcção significa um recuo em volta dos 10/12% ou 1/3 dos ganhos recentes. Sinceramente duvido que o mercado, no futuro próximo, desça muito mais do que isto. Não acredito, pois, que os mercados venham a testar os mínimos de Março tão cedo e isto por várias razões:1) Os dados macroeconomicos não sinalizam grandes melhorias, mas sinalizam pelos menos que a queda-livre no preço das casas, nas vendas de automóveis, no retalho, na produção industrial e até nos índices de confiança tanto de consumidores como de empresários parece ter estancado. Ora, isso significará que se não se vislumbram razões para novas subidas, também não vêem motivos para pânico vendedor. O meu prognóstico é que no curto e médio prazo a economia deverá desenhar um L, ou seja, depois de ter afundado, deverá estagnar. Mas como as bolsas pareciam estar a incorporar um V isso poderá traduzir-se em desilusão que venha a possibilitar um W. Estou portanto moderadamente pessimista no curto e médio prazo para as acções e matérias-primas. Quanto ao longo prazo estou francamente pessimista, já que acredito que a crise actual não é de ciclo, mas de paradigma. É todo um modelo de sociedade que está em causa, modelo esse assente numa classe média altamente consumista e altamente endividada. Ora se essa mesma classe média empobrece de dia para dia como poderá voltar aos padrões de consumo recente?
2-Helder que estratégia vai seguir nos próximos tempos para se proteger das perdas recentes?
Bom, depois da sucessão de erros e de perdas que trouxeram a minha conta para valores quase neutrais, não me resta outra opção senão preocupar-me em tentar salvaguardar o capital inicial. Devo dizer que o meu maior erro foi falta de disciplina mental. Foi não ter seguido as normas de negociação que eu próprio elaborei de antemão.
Além disso, contrariamente há 2 dois meses atrás, não vislumbro nenhuma razão forte de investimento, nenhuma oportunidade clara, pelo que suspeito que esta poderá mesmo ser uma óptima altura para ir de férias e recuperar um pouco a confiança...